Trafegando pela BR 262, principal estrada que atravessa o Estado do Mato Grosso do Sul, rumo a Bolívia, encontramos um pequeno recanto, localizado pouco antes do km 654. Logo após a serra de Maracaju, uma casinha simples de beira da estrada, com um pequeno comércio na frente, onde vende um delicioso peixe frito.
A moradora é uma senhora de 72 anos que preserva símbolos de um bioma inteiro. Ela mora com um filho, vive no local a 38 anos e ficou conhecida como ‘Maria dos jacarés’.
Batizada como Eurides Fátima Macena de Barros, ela veio de uma região distante de Miranda e possui um amor por animais que, normalmente, aterroriza algumas pessoas.
Apesar de morar em um lugar tão vulnerável , como uma rodovia, e ter uma casa simples, ela não pensa em ir embora. Ela fala: “Eu não conseguiria ir, porque eu tenho muita dó dos jacarés. Eu tenho muito amor, eu não conseguiria sair, só se um dia eu ficar doente”.
E os animais respondem a esse carinho. Os jacarés vêm quando ela toca o berrante ou os chamam pelos nomes. Ela se aproxima, acaricia os répteis, mas, respeitando a natureza do animal, jamais tentou transformá-los em bichos de estimação.
Quando ela tocou o berrante e foi gritando os nomes, surgiam jacarés, de todos os lados. Não resisti àquele momento e perguntei se poderia aproximar. Ela me surpreendeu, me perguntando se eu gostaria de segurá-lo. Não pensei duas vezes, era Tafarel, achei ele simpático e inofensivo kkkkk, então, segurei o bichão pelo rabo…
A história de Dona Maria começou após sua chegada ao local, devido ao trabalho do marido. Ele era um dos trabalhadores que construíram a ponte que hoje é famosa por quem passa pela rodovia. Naquela época, tinha muita matança de jacaré. Ela conta que ouvia o pessoal dizendo que tinha matado tantos jacarés e isso a emocionava muito, a aborrecia bastante. Mesmo após a separação, há mais de 20 anos, ela continuou no local. Mesmo com pouquíssimo recurso, ela se nega a sair de lá, pois teme pelos bichos.
Ela descreve sua relacao com os jacarés como algo divino e conta que a primeira aparição foi em um dia que ela estava amamentando um de seus filhos e apareceu o Bruto (nome que ela deu ao jacaré) e que ela gritou de tanto pavor, ninguém escutou, então ela foi falando com ele e, como obra divina, ele não atacou e a obedeceu.
Ela conta que o número de jacarés no rio já chegou a 1.600. Apesar de todo o cuidado e mesmo com uma falta de infraestrutura adequada, a matança ocorrida no passado, não muito distante desses animais, comove ela até hoje. Ela contou que é comum encontrar animais mortos, devido a problemas de saúde e, por isso, necessita se ausentar para ir a médico. Quando volta, sempre encontra algum morto, afinal é o momento que eles ficam desprotegidos.
Ela os batizou com nomes relacionados ao futebol. O mais velho leva o nome do ex-técnico da selecao, Felipão: “Tem o Taffarel, cujo nome jamais esquecerei, pois foi o que segurei pelo rabo, tem o Ronaldinho, Dunga, Gilmar, Bruto, que foi o primeiro a aproximar dela e outros”, conta ela.
Mas, se os répteis assustam algumas pessoas, confesso que a mim não, fiquei maravilhada com essa experiência.
Ela vive do que vende na beira da estrada e cobra somente os turistas que vêm em ônibus de turismo. A renda, que é curta, tem sua maior parte revertida para a compra dos alimentos dos animais. Para os jacarés, ela compra os retalhos de carne. Já para os tuiuiús, conhecidos como flamenguistas, ela deixa os restos dos peixes que frita para alimentá-los.
Ela fala que todo o esforço vale à pena que possui um amor enorme por esses bichos, então, vindo para esses lados, não deixe de visitar e apreciar essa intrigante amizade entre dona Maria e seus jacarés.
caracas meu que impressionante, quero tanto ir nesse lugar ela ta no KM 654 eu no KM 0 (zero) em vila velha 20 KM antes do incio da 262 que maravilha.
dona maria quero cuidar de jacarés junto com a senhora isso é maravilhoso!.eu amo anmais .
Tive a oportunidade de conhece-la e presenciar este carinho, muito emocionante.