SOBRE MÃES, MOTOS E LIBERDADE

Presenteamos as todas as Mães no seu dia com uma linda Crônica da Motociclísta Gabriela Oliveira Freitas.

Dentre todos os vínculos que eu mantive com a minha família ao longo da vida, a moto sempre foi um dos mais importantes. Não me lembro da primeira vez em que subi no banco de em uma moto com meu pai, mas sei que foi bem pequenininha. Ele sempre conta que me colocava sentada em cima do tanque da moto e me amarrava nele com uma fraldinha, para não cair.

Com a minha mãe, a verdadeira aventura ocorreu quando eu tinha uns 7, 8 anos e ela comprou uma Honda Dream (para quem não lembra, ela foi a precursora da Bizz). Não sei por quantas vezes eu cortei a cidade inteira na garupa da minha mãe. Fui garupa a vida toda: do meu pai, da minha mãe, do meu irmão. Quando fiz 18 anos, decidi que não queria tentar tirar carteira de moto para sempre ter a necessidade de estar na garupa de algum deles.

Karla mãe de Gabriela

Sempre fui muito parceira da minha mãe. Como ela mesma dizia, era algo meio “Thelma & Louise”. A gente adorava a sensação de enfrentar o asfalto juntas, fosse de carro, fosse de moto. Ela me ensinou a amar a estrada, a aventura, a não ter medo de nada.

É impressionante como as mães exercem tamanha influência sobre quem nós somos e sobre o que pensamos. Por causa da minha mãe, nunca consegui acreditar nas pessoas que diziam que andar de moto era perigoso. Ela nunca me transmitiu essa noção de perigo e sempre deixou claro que a gente poderia fazer tudo o que quisesse. Lembro-me bem quando ela saiu de casa, sem falar com ninguém, pegou uma moto um pouco maior, que meu pai tinha na época, e saiu andando à toa pelo Caparaó Capixaba, só pelo prazer de andar de moto e de tirar boas fotos.

Ela disse que, quando subiu na moto pela primeira vez, achou que ia viver a maior aventura da sua vida. Mas depois descobriu que a aventura estava só começando. E, se tem algo que aprendi com ela, é que a vida é para ser divertida, não para ter medo. Ao contrário das mães que dizem “leva um casaco” quando um filho vai sair, a minha dizia “aproveita”.

Douglas Irmão, Gabriela, Emerson Pai e Karla Mãe, uma família motociclísta

Tive a minha mãe por 30 anos e, ao longo desse tempo, ela acreditou em mim muito mais que eu mesma. Por causa dela, nada nunca me pareceu impossível. Nada pode parecer impossível quando se tem uma mãe que conseguiu concluir a faculdade já com um filho pequeno; que, por quatro anos, se desdobrou entre a sua profissão de dentista e o cargo de Secretária Municipal de Cultura de Iúna; que foi campeã nacional de som de carro; que encarou toda e qualquer maluquice que meu pai inventou; que encarou na garupa milhares de quilômetros, incluindo a Serra do Rio do Rastro. Nada é impossível para quem foi criada por uma mãe dessas.

Aprendi com ela a ser livre, a fazer qualquer coisa sem medo, a enfrentar a vida. Ela permitiu que eu fosse como eu quisesse e me fez acreditar que eu poderia ser quem eu quisesse. Ela me ensinou a viver da mesma forma que andamos de moto: toda a liberdade é possível, desde que haja responsabilidade. Disciplina é liberdade, não é mesmo?

Hoje, volta e meia, ocupo a garupa do meu pai, aquele lugar que, por 39 anos, havia sido da minha mãe. Não foi fácil subir na garupa que foi dela, usando as roupas que ela deixou, o capacete dela. Eu nunca quis ocupar muito espaço nessa vida e, de repente, me vi ocupando um espaço que nem era originalmente meu. Confesso que gostava mais da garupa esporádica, que eu ocupava e devolvia o lugar para a minha mãe no fim da viagem. Lembro-me dela dizendo que andar na garupa se equiparava a uma dança, em que se deixava conduzir pelo piloto. Tento andar na moto lembrando tudo que ela me ensinou.

Ainda ando com a bolsa da câmera pendurada nos ombros, porque eu tenho a esperança de conseguir fazer como ela e sair fotografando a estrada ao longo do percurso. Nisso aí eu ainda fracasso. Não consigo nem o equilíbrio e controle da câmera, muito menos fazer fotos como as dela.
Não consigo ser igual a ela, mas tento carregar todos os ensinamentos dela comigo, todos os dias, o tempo topo. Como diz a música: o meu medo maior é o espelho se quebrar.

Gabriela Oliveira Freitas

Comments (3)
Add Comment
  • Anakely

    Gabriela, BoraMundo, que linda mensagem, que feliz escolha para hoje, para o dia das mães.
    Eu conhecia pouco de sua mãe, mas já admirava! Agora, puxa vida! Que mulher, que mãe!
    Gabriela, sua mãe cumpriu muito bem a missão dela e deixou pra nós uma outra mulher forte e sensível (ê espelho!!!)
    Falar em espelho, eu já estava chorando, quando vi a referencia à música no final, desabei! Sempre choro com essa música
    Parabéns boramundo!!!
    Parabéns Gabriela
    Feliz dia das mães karla!!!

    • Gabriela Freitas

      Obrigada, Anakely! Minha mãe foi mesmo uma mãe espetacular. E obrigada, Viramundo, por me dar esse espaço pra falar dela. 💕

  • Maria de lourdes

    Essa é realmente a visão de ser garupa. Algumas pessoas acham fácil ser garupa mais não é para qualquer um, você tem que gostar muito de andar de moto e confiar muito em quem está pilotando. E eu confio tanto no meu piloto mor que é meu marido como nos meus filhos que são umas bênçãos. Amei tudo que diz no texto.LINDO